terça-feira, 24 de agosto de 2010
Construindo pontes
Fui ver o filme “A Origem”. Preciso admitir o quanto a engenharia do imaginário me atrai. Construir pontes entre o palpável e o insondável me estimula. Foi impossível não divagar sobre qual seria a linguagem do intangível. Se alguma língua nesse espaço imaterial fosse falada, certamente essa língua teria um nome: Poesia. A poesia sempre me faz chegar rapidamente à outra ponta da grande metáfora. Através dela consigo ver o abstrato. Ela me permite recriar o mundo; renovar o sentido da vida.
Mas, o que é poesia? O que poesia não é? Qual sua importância para o desenvolvimento humano?
Eu já encontrei muitas definições, mas particularmente gosto da de Frost, poeta americano: “Poesia é aquilo o que não se pode traduzir”, ou seja, se você tiver dúvida sobre se um texto é poesia ou não, basta traduzir. Conseguiu? É prosa. Não conseguiu? Provavelmente você está diante de uma poesia.
Poesia não se faz como um pão, como um vestido, como uma estrada. Poesia não é a justaposição aleatória de belas palavras. Não é alguma coisa que possa ser inventada. Não dá simplesmente para fazer uma seleção de temas e a partir destes tentar encaixar rimas; encontrar coincidências sonoras; verificar a plasticidade, a semântica, os signos exatos, os fonemas... Definitivamente, para ser poeta é preciso ter o dom!
O saber é construído a partir de dois grandes elementos: curiosidade e imaginação. O que move o filósofo é a curiosidade, o que forja o poeta é a imaginação. Toda criança, ou quase toda, nasce essencialmente filósofa-poetisa, justamente porque é curiosa e imaginativa.
Nem todos seremos Carlos Drummond de Andrade, mas, por que a poesia é tão timidamente abordada em sala de aula — e não só nas aulas de língua portuguesa e literatura? Se temos consciência de que o que nos livra da loucura e do tédio é a fantasia, por que não incentivar a leitura e a produção de formas originais de ver o mundo? Quando uma criança entra em contato com os recursos estilísticos da poesia, consegue reconhecê-los, interpretá-los e recriá-los. Em um simples verso o mundo pode ser traduzido, justamente porque a poesia fala nas entrelinhas.
Eu declamava poesias nas festas natalinas (e eu não sou tão velha assim). A pedagogia moderna retoma e incentiva o trabalho com textos poéticos, uma vez que esses são instrumentos eficazes no desenvolvimento de habilidades sensoriais; do senso estético; de competências simbólicas. A criança que descobre o prazer de compreender um texto poético desenvolve mais amplamente sua capacidade linguística; adquire a sensibilidade de compreender a si, o mundo, o outro e a vida; aprende a fazer deste tipo de linguagem uma ponte entre aquilo o que existe e aquilo que é.
Qual sua poesia preferida? Qual melhor te traduz? Pense nisso!
Jane Castelo Branco
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Olá!
ResponderExcluirObrigada pela dedicatória do post! Suas palavras tão sábias nos deixam pensativos e ansiosos por mais textos como esse! Parabéns pelo blog Abraços!