segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Viva a diferença! Uma crônica ilustrada.




Em fevereiro deste ano Charles Darwin faria 201 anos, autor da teoria da evolução das espécies, o grande pensador que ousou romper com a visão bíblica da origem do homem — onde os holofotes estavam dirigidos à dupla dinâmica Adão e Eva —, provou que descendíamos dos macacos.

Adoro essa idéia! É tropical, exótica, moderna e nos faz todos, embora donos de uma mesma origem, deliciosamente diferentes. Sabe quando mais me lembro que somos irmãos dos macacos? Quando escuto, por exemplo, a abominável expressão “festa de gente bonita”. Tenho sempre vontade de perguntar: e qual o critério de beleza? E se alguém “feio” chegar à festa? Vai ser barrado? Gordo pode ser bonito? E negro? E pobre? E se a roupa não seguir os padrões da modernidade? Gente maldosa pode ser bonita? E bonito pode ser desonesto?

Adoro festas arrumadas, bons drinks, ótimos restaurantes, roupas legais, mas gosto de gente feia também. Tem uns feios que preenchem meu coração como nenhum bonito seria capaz de fazê-lo. Adoro a diferença e não quero permitir que o meu preconceito — porque é evidente que tenho também — me impeça de raciocinar sobre o quão bom é o efeito da diferença sobre a vida da gente.

Comecei a pensar nisso, confesso, alguns dias depois da manhã do dia 28 de abril de 1983 quando me descobri de frente à diferença. Nesse dia nasceu Deco, meu sobrinho e portador de Síndrome de Down. Em meio ao impacto da descoberta, de todas aquelas coisas meio doentias que surgem na nossa cabeça sobre “por que conosco”, do choro e da angústia de minha irmã e meu cunhado, havia ainda um bebê com uma patologia cardíaca e precisando de ajuda e dedicação. As múltiplas pneumonias e internações dos primeiros cinco meses de vida e a cirurgia cardíaca em São Paulo formaram um turbilhão de emoções e acontecimentos que só depois, nos meses seguintes, foi possível tornar racional.

A diferença estava ali, mas ela podia ser a informação, a luz, o livro enriquecedor que muda a sua vida porque muda o seu olhar. Não tenho dúvidas em afirmar que sou muito melhor depois do nascimento do Deco. Que fui uma mãe melhor também por isso. Que meus filhos puderam conviver desde sempre com um primo diferente e que se tornaram pessoas mais humanistas e cidadãs.

Se vocês querem saber, Deco é um rapaz de quase 25 anos, viajadíssimo, conhece vários países, faz musculação, teatro, tem namorada e trabalha na Light. É divertido e, às vezes, chato demais. Como todos nós, que somos diferentes entre si e tão dependentes uns dos outros. Adora uma festa – nisso puxou a família – e vai para “night” como todo jovem descolado. Curte funk, praia e – para minha decepção — torce para o Vasco. Ah... sim! Tem noção que é diferente e sabe o quanto isso instiga e desafia. Que bom!



Quero a diferença sempre porque ela me traz novos ângulos de visão e de possibilidades; é instigante, provocador, quebra a métrica e abre os horizontes. Como viver cotidianamente num ambiente de aprendizagem e não abrir os olhos para tudo e para todas as pessoas que nos cercam? Isso também é educação, é ensinar, é aprender, é discutir... é vida.

Como já dizia o mestre maldito Nelson Rodrigues, toda unanimidade é burra. Não quero que todos concordem, muito ao contrário. É esse colorido mosaico, multiétnico, multicultural, mullticriativo que faz a razão e o prazer da Estudos & Cia.

(esse texto é de autoria de Veronica Cobas, parte do projeto Estudos & Cia, e está publicado também no blog http://criativesse.blogspot.com/. Confiram por lá, confiram por aqui, pensem no assunto.)


Estudos & Cia Tijuca: Av. Heitor Beltrão, 13
Tels.: 2204-1371 / 2204-1372
Estudos & Cia Jacarepaguá: Av. Geremário Dantas, 832 / 103
Tels.: 2425-3821 - 9711-1149

http://www.estudosecia.com.br/

2 comentários:

  1. Olá! Parabéns pelo belíssimo blog! Estou te seguindo também! Obrigada pela visita! Abraços!

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  2. Belíssimo e emocionante texto!
    Que bom que podemos ser diferentes e aceitarmos uns aos outros da forma que somos, e não da forma que gostaríamos que fôssemos.
    Obrigadão pela visita e, como a amiga foi mais rápida....kkk, agora estou seguindo seu inspirador blog :)
    Aurelio

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